A Escola de Miragaia

por Ana Pereira (Coordenadora da Escola EB de Miragaia)


A escola de Miragaia caracteriza-se por ser um edifício constituído por volumes desnivelados, com comunicação entre si através de amplos espaços de ligação, tendo sido construída em socalcos, em obediência ao terreno acidentado onde está implantada, arquitetura moderna cujo projeto vencedor é do Arq. Miguel Regueiras.

Inserida no centro histórico da cidade, comporta uma riqueza impar de vivências, que moldaram de forma incontornável o carater das suas gentes. Pela sua proximidade ao rio e à praia (onde hoje se encontra o cais e o edifício da Alfândega), desenvolveram-se nesta zona atividades ligadas à pesca, transportes e comércio de mercadorias por via fluvial e marítima, levando à fixação da população que se organizou em comunidade ao longo da escarpa de morfologia agreste. Foram aí sulcados caminhos íngremes e escadas que ainda hoje constituem as vias para percorrer a freguesia. As habitações edificadas são, na sua maioria, estreitas e chegam a atingir cinco pisos.

Testemunhos das principais formas de subsistência dessa época foram perpetuados através de formas de expressão popular de folclore e festas religiosas como é o caso da festa de S. Pedro de Miragaia em honra do santo padroeiro da freguesia, protetor dos barqueiros, assim como a festa do Corpo de Deus, onde a procissão era feita em honra à faina marítima. As lendas fazem parte do imaginário desta freguesia e são de enfatizar os marcos históricos visíveis na riqueza do património arquitetónico que se encontra em cada rua ou praça ou ainda no casario. “Respira-se” a História do Porto nos edifícios, igrejas, jardins, fontes, escadas ou vielas.

É neste núcleo histórico, classificado pela UNESCO, em 1996, como Património Mundial, que se situa a Escola de Miragaia.

Mas não é só pelas características arquitetónicas que esta escola se diferencia, também o seu lado vivido é diferente, pois trata-se de uma escola com características especiais, não só atendendo à sua estrutura, mas também e principalmente à sua população, que exige dos professores um trabalho especial. Esta não será certamente a escola mais fácil, mas será, com certeza, aquela que comporta um grande desafio profissional.

A Escola foi criada em 1988, através da portaria nº136/88 de 29 de fevereiro, como resposta à falta de estabelecimento deste nível de ensino na zona histórica.

O corpo docente que integrou o quadro da escola cedo se apercebeu da necessidade de um trabalho em equipa e colaborativo e mobilizou-se na construção de um projeto educativo que desse respostas aos inúmeros problemas emergentes. Assim, em 1998, constituiu-se o TEIP (Território Educativo de Intervenção Prioritário) o que possibilitou um trabalho em rede com todas as escolas do 1º ciclo da Zona Histórica, S. Miguel (agora extinta), S. Nicolau, Bandeirinha e com instituições de apoio à infância, colectividades e IPSS locais, movimento precursor do Agrupamento Vertical de Escolas.

De referir, como curiosidade, que os alunos chamavam à escola “Titanic”, não inventaram a alcunha por acharem que o edifício está à beira de uma catástrofe, mas sim porque lembra um grande e imponente navio. Longe de ser sinónimo de tragédia, desperta nos alunos um sentimento de proteção, e é a bordo dele que optam por ficar até bem tarde, muito depois de terminarem as aulas, envolvendo-se em atividades de apoio ao estudo e ou lúdicas porque a participação em projetos foi uma característica que, desde o início, marcou a forma de trabalhar desta escola.

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