Sorte de cão
por António de Montelongo (01/02/2006) “Saiu-te a sorte grande!” - foi desta forma que o veterinário se referiu ao Tino após tê-lo tratado e ouvido a sua breve história relatada pelos novos donos. “Saiu-te a sorte grande, cão!” Apesar do abandono e por causa do adandono, a alguns cães sai a sorte grande. A outros, a tantos outros, o que os espera é a morte provocada pelo abandono do ser em quem eles confiaram. A ruptura com o ser que se amou é sempre vivida na dor, mesmo que imperceptível para os outros. Os outros, verdadeiramente, nunca percebem a dor que não é a sua. Só o próprio sofrimento é que é doloroso. A história de Tino também começa na dor, em situação de ruptura, de abandono, num dia quente de Agosto. Foi no dia 15 que o deixaram numa mata junto à praia, mas como era jovem e com vida marcada pelo sofrimento, não lhe custou muito ficar aí, mais ou menos quieto, à espera de alguém. Eis que finalmente, ao fim da tarde, se apercebe que um casal se aproxima e traz um ser da sua ...