Haiku


por Maria do Carmo Azeredo Lopes

O haiku (frequentemente designado por haicai pelos poetas de expressão portuguesa, sobretudo brasileiros) é uma composição poética breve, de origem japonesa que se caracteriza, basicamente, quanto à forma, por ter três versos curtos e, quanto ao conteúdo, por expressar uma percepção da natureza: o haiku ocidental parte normalmente de uma percepção concreta que faz disparar associações, sentimentos, dados da memória...). A subjectividade provém sempre de uma objectividade captada pelos sentidos. O haiku capta o instantâneo, o presente e exige uma permanente atitude de atenção e espanto perante os fenómenos da natureza.
O haiku deriva de uma forma de poesia (surgida no Japão entre os séculos IX e XII), designada por tanka e que abordava temas religiosos ou ligados à corte. No século XV, os concursos de poesia tanka deram origem a um jogo de escrita com poemas mais longos: a primeira estrofe, de três versos, era sugerida por um poeta e as restantes iam surgindo num jogo competitivo entre vários poetas. Este tipo de poesia era a renga e os primeiros três versos (os mais importantes, pois serviam de mote) acabaram por se tornar uma forma independente de poesia.
Bashô Matsuo (1644-1694), considerado o primeiro e maior poeta japonês de haiku, nasceu samurai e, adoptando a simplicidade tanto na vida como na criação poética, enriqueceu o haiku, superando a artificialidade de poetas anteriores: "O velho tanque/ uma rã mergulha/barulho de água".
No entanto, só no século XIX, Masaoka Shiki (1867-1902) atribuiu um nome a este tipo de composição: haiku (pela junção das palavras haikai e hokku).
O haiku foi absorvido por outras culturas e línguas e chegou ao Ocidente, quer através da imigração japonesa, quer pelo fascínio que o Oriente foi gradualmente exercendo sobre os ocidentais. Para tal, no caso da literatura portuguesa, foi determinante o exotismo presente em textos simbolistas de final de século, de autores como Venceslau de Morais e Camilo Pessanha.
A concisão da forma e, essencialmente, a percepção da natureza são elementos muito marcantes nalguns poetas contemporâneos, como Eugénio de Andrade e Albano Martins. A obra poética deste autor caracteriza-se pelo equilíbrio entre a contenção (forma breve e linguagem depurada) e o poder imagético da palavra. Em 1995, editou poesia haiku de sua autoria, sob o título Com as flores do salgueiro - Homenagem a Bashô:
Jogo de sedução
entre o vento e as folhas.
Prazer volátil.

Numa altura em que vivemos numa sociedade cada vez mais desligada da natureza, esta capacidade de estar atento ao simples, ao espontâneo, ao natural constitui uma lição de vida fundamental.
Além do mais é uma forma de iniciação poética viciante: fazendo-se um poema nasce uma indomável vontade de fazer mais. Que o digam os alunos do ensino recorrente (11º CSH, 11º CTA, 12º CCT, 12º CSH e 12º CTA) a quem este exercício foi proposto: surgiram tantos poemas em tão pouco tempo (apenas 15 minutos de aula) que todos ficámos surpreendidos. Da selecção de um poema de cada um, aqui fica o testemunho: criaram-se marcadores de leitura para assinalar o Dia Mundial da Poesia, magnificamente ilustrados pelos alunos do 12º F, orientados pelo professor Eduardo Miguel.

No azul do céu
paira uma harmonia
que todos desejamos alcançar...
Ricardo Santos (aluno do 11º CSH)

A morte sonolenta de um longo estio
refulge no sótão de uma velha mansarda
e nas garras prateadas da pega...
Miguel Tavares (aluno do 11º CSH)

Alegre cantar,
esvoaçar deslumbrante...
Chegou a Primavera!
Manuela Veríssimo (aluna do 11º CSH)

Fundos maravilhosos,
corais lindos!
Chegámos ao mar....
Rute Correia (aluna do 11º CSH)

O mar bate na areia
e aproxima-se de nós.
Aqui vou eu para o abraçar!
Rui Magalhães (aluno do 11º CTA)

A amizade é como um caminho:
se deixarmos de lá passar,
enche-se de silvas.
Cláudia Carvalho (aluna do 11º CTA)

Noite, minha guardiã,
só debaixo das estrelas,
é que me sinto protegida...
Carla Mestre (aluna do 11º CTA)

O sol a raiar...
E as flores desabrocham
num sorriso...
Armando Fonseca (aluno do 11º CTA)

As flores esvoaçam,
tranquilas,
ao sabor do vento...
Paula Ribeiro (aluna do 12º CSH)

As nuvens chocam-se,
o dia termina...
e o mundo não acaba.
Euclides Romão (aluno do 12º CSH)

A lua assobia na noite fria...
E a noite dura
no Inverno rigoroso...
Alexandra Santos (aluna do 12º CSH)

Noite de Verão...
Céu coberto de estrelas flamejantes...
Pedaços dos meus pensamentos...
Silvina Cerqueira (aluna do 12º CSH)

Uma rosa no roseiral
desabrocha no coração
dos mais empertigados.
Vitorino Ferreira (aluno do 12º CSH)

Exausta,
deito-me na relva...
A sua beleza espanta!
Ana Paula (aluna do 12º CSH)

Por entre o corredor do Inverno,
o esvoaçar de folhas
que rejuvenescem em direcção à Primavera...
Marisa Silva (aluna do 12º CSH)
Mar: com as suas
ondas, desenha o
seu destino.
Joana Coelho (aluna do 12º CCT)

Invernosamente aconchegada,
a folha abana,
a lágrima cai...
Maria de Lamares Pereira (aluna do 12º CCT)

O vento surge.
O mar se exprime,
com fúria sublime.
Priscila Saraiva (aluna do 12º CCT)

Livres como o vento num dia de Inverno,
os pássaros esvoaçando
num espaço aberto...
Adérito Raio (aluno do 12º CCT)

A neblina cobre a foz,
o rio descansa transpirado,
o vale bebeu a vida...
Pedro Lourenço (aluno do 12º CCT)

As folhas das árvores
murmuram palavras
soltas ao vento...
Manuel Maria (aluno do 12º CCT)


Hipnotizado
pelo canto da água,
pelo impulso de rios do meu ser...
Carlos Seabra (aluno do 12º CCT)

Quando o sol se põe no horizonte,
desenha uma estrada
por onde apetece caminhar.
Angelina Sousa (aluna do 12º CTA

Uma borboleta voa
com as asas batendo,
ajudada pelo vento...
Rayane Paixão (aluna do 12º CTA)

As estrelas são
pirilampos ...
que estão sempre a brilhar.
Ana Raquel Oliveira (aluna do 12º CTA)

Flores
num jardim,
um arco-iris no céu!
Maria Otelina Leite (aluna do 12º CTA)

O cantar dos pássaros
acorda a manhã;
o sol aquece a luz...
Ana Cecília Carvalho (aluna do 12º CTA)

Mar, admirar o teu azul
enche meu olhar
e exalta minha alegria!
Maria Alice Lopes (aluna do 12º CTA)

Na Primavera, a cor do céu
é a cor da minha alma:
azul, como a cor do mar.
Rui Manuel Ribeiro (aluno do 12º CTA)

Lua, procuro-te mas não te encontro,
apareces quando queres
e nem sempre te vejo.
Vítor Borges (aluno do 12º CTA)

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