O aquecimento central da nossa escola



Não se dispa tanto no inverno!
por Augusto Ferreira

Há tempos, a televisão americana passou um spot publicitário que dizia mais ou menos isto: saiba utilizar o ar condicionado; não se dispa tanto no Inverno e vista-se mais no verão.
Os objectivos da mensagem eram óbvios: sensibilizar a população para uma utilização mais racional da energia e contrariar a tendência, preocupante e estúpida, para o desperdício da mesma. Esta tendência, tão característica da sociedade americana, assenta em vícios que se podem caricaturar assim:
- No Inverno, quinze graus negativos lá fora? Não há problema; põe-se o ar condicionado, em casa ou no escritório, a 30ºC, tira-se o casaco e arregaçam-se as mangas. Ao contrário, no verão, 35ºC de temperatura exterior? Regula-se a temperatura interior para 16ºC e é uma frescura bestial.
Salvaguardando as devidas distâncias no tempo e no espaço desta reflexão, vem tudo isto a propósito do aquecimento central na nossa escola: uma verdadeira americanisse ou, se quisermos, o exemplo perfeito de uma utilização irracional de energia. De facto, não se percebe como tanta fome deu em tanta fartura. Uma fartura tão incompreensível como disparatada pelos custos, não só energéticos / financeiros como, inclusive, na própria saúde das pessoas.
O comportamento térmico dos edifícios obedece e resulta de múltiplos parâmetros como, por exemplo, tipo de paredes e isolamento das mesmas, localização (arquitectura solar), dimensões, temperatura exterior, etc. Na nossa escola o controlo da temperatura é feito informaticamente, de forma centralizada: é definida a temperatura da água quente na saída da caldeira (que queima gás natural), bem como a temperatura no interior das salas de aula; a água vai circular pelos radiadores existentes nessas salas onde estão colocadas sondas (junto às portas?!) que transmitem o valor da temperatura na sala ao computador, cujo programa permite depois controlar a temperatura em cada uma das salas. Acontece, porém, que, dadas as diferentes características dos locais a aquecer, a tendência para o exagero atrás referida (as pessoas também libertam calor e 22ºC no Inverno é suficiente para temperatura de conforto) e o facto de o sinal das sondas (pela sua localização) não corresponder à verdadeira temperatura ambiente dentro das salas, o calor resultante dentro destas tem atingido valores que, com alguma frequência, ultrapassam os limites do suportável. Paradoxal é ainda o facto de não se ter atenção à temperatura do ar exterior. Os radiadores, em várias salas, têm-se mantido ligados mesmo com um tempo primaveril cá fora!
Dizem que esta é ainda uma fase de experiências. Experiências demasiado longas para os evidentes prejuízos e disparates que custam caro à escola, ao país, ao planeta, a cada um de nós.
E andamos nós, professores, a pregar “Eficiência energética”, “Utilização Racional de Energia”, “Consumidor responsável e inteligente”, blá, blá, blá. O crime é perfeito.

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