A Questão de Chipre

A convite do nosso antigo aluno e Cônsul Honorário da República do Chipre, Dr. António Fonseca , o nosso repórter Miguel Guedes, esteve presente no passado dia 12 de Março, na Livraria Almedina para a apresentação do livro “A Questão de Chipre, Implicações para a União Europeia e a Adesão da Turquia”.
Entrevista a:
José Pedro Teixeira Fernandes
(Autor do livro “A Questão de Chipre”)
por Miguel Guedes (aluno do 8ºB)
Etc: Como surgiu a ideia deste livro?
José Pedro Teixeira Fernandes: A ideia deste livro é um projecto já um pouco antigo, que surgiu quando comecei a trabalhar no tema da Turquia.
Com o tema da entrada da Turquia para a UE, surgiu a ideia de criar também um livro sobre o Chipre, visto que a Turquia tem um problema ligado á ocupação da parte norte da ilha.
Etc: Sendo que o trabalho começou pela Turquia, qual é a sua posição em relação a este conflito entre os dois países?
J.P.T.F: Não é fácil dizer isso numa resposta curta. A Turquia, inevitavelmente, se quiser resolver o conflito, vai ter de negociar a retirada das tropas que tem no norte da ilha e assim, aceitar o Processo de Reunificação do Chipre como um estado soberano. Mas há muitos detalhes complexos e essa é uma questão que gera um forte sentimento nacional na Turquia, sendo muito difícil de negociar.
Etc: Não será também, um pouco difícil devido ao facto do Chipre ser o único país europeu que tem a capital dividida?
J.P.T.F: Sem dúvida!
O Chipre é o único país europeu que tem a capital dividida, faz lembrar um pouco Berlim nos tempos da Guerra Fria, é um anacronismo nesse aspecto. Mas, ao mesmo tempo, há interesses que não são só da Turquia, da Grécia, ou do Chipre mas que envolvem também as grandes potências, o que torna a discussão de um acordo ainda mais complexa.
Etc: A Turquia é um país que sabemos que tem sido alvo de grande turbulência, tanto em termos religiosos como em termos políticos.
J.P.T.F: A Turquia tem realmente uma situação política que não é fácil compreender, está provavelmente num processo de escolarização, ou seja, a tornar-se num estado em que o papel da religião é maior, um pouco na linha do que aconteceu no antigo império otomano.
Acho também que não é fácil ver o que isso vai implicar para uma negociação de adesão á UE, e também obviamente na solução do problema.
Ao que parece a Turquia está disposta a efectuar cedências para entrar na UE, ainda há poucos anos aboliu-se a Pena De Corte de Membros.
Na questão dos direitos humanos, a Turquia fez alguns avanços inquestionáveis, no entanto, existem ainda outras questões que não são fáceis de resolver na Turquia, pela própria especificidade do pais que está na zona de transições entre o Mundo Europeu e o Mundo Não Europeu, que torna a Turquia um país com muita influência europeia, sem dúvida, mas também é um país de base cultural e religiosa islâmica, o que gera outra percepção sobre os direitos humanos, sobre as questões religiosas, sobre a vida em sociedade e sobre o papel da mulher.
Etc: A verdade é que Turquia está como sabemos, dividida entre Europa e Ásia, não provocará a sua entrada para a UE, um desvirtuamento da mesma?
J.P.T.F: Essa é uma boa questão.
A Turquia é um país muito grande. Se compararmos com os actuais países europeus, a França tem mais de 750.000 km2 sendo a maior, por sua vez a Turquia é uma vez e meia.
A França faz fronteira com o Iraque, com o Irão, com a Síria, com a Geórgia, portanto há uma parte da Turquia que está numa área do mundo que não é europeu. Isso é claramente um problema.
Etc: Se a Turquia entrar na UE, certamente criará alianças.
J.P.T.F: Essa situação não poderá arrastar os europeus para conflitos que não lhe dizem respeito?
Pode, esse é um risco que os europeus correm. A pode arrastar consigo os europeus para certos conflitos que a Turquia tem, nomeadamente no norte do Iraque. Esse é um risco que a UE corre se arrancar com o processo de adesão.
Etc: Então ficamos por aqui, obrigado por tudo e muito sucesso para o seu livro.
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