A aposta na Biodiversidade


por Rosa Costa

A variabilidade é uma característica fundamental da Natureza, os ecossistemas são diferentes, as espécies diferem umas das outras e a constituição genética dos indivíduos da mesma espécie também não é igual. A Biodiversidade é, por isso, um recurso precioso, que garante o equilíbrio ecológico, do qual depende o nosso bem-estar e a própria economia, turismo, biotecnologia e “serviços ambientais” de primeira necessidade, como água potável e ar puro.
Ao longo dos tempos, a interferência humana nos ecossistemas assumiu progressivamente uma postura de conquista e exploração da Natureza sem limites, numa atitude despreocupada e pouco consciente, que pôs em risco habitats de muitas espécies e conduziu a um problema ambiental à escala global, obrigando, actualmente, os países a convergirem esforços para protegerem a Biodiversidade em todo o Mundo.
A Europa é, simultaneamente, uma das regiões mais “artificiais” e uma das que mais esforços tem feito em prol da conservação da Natureza. Portugal é um dos países europeus com uma das biodiversidades mais ricas, com uma variedade de paisagens, de espécies e habitats protegidos, em relação à nossa área territorial. Possui cerca de 40% dos vertebrados terrestres, é o quarto país com maior número de espécies endémicas vegetais, mas o terceiro em espécies ameaçadas. Cerca de 75% do território nacional integra os escassos 1,4% do planeta considerados necessários para salvaguardar 45% das plantas vasculares e 35% dos vertebrados a nível mundial. Manter esta biodiversidade saudável, investindo nas espécies autóctones portuguesas, representa um enorme potencial económico para o país, pois assegura uma fonte sustentável de produtos de qualidade, certificados e cada vez mais procurados. Mas, por outro lado, muitas decisões tomadas no terreno contrariam a política proteccionista de compromisso assumido em 2002, quando grandes obras públicas são anunciadas sem uma correcta e completa avaliação dos impactes ambientais, da racionalidade económica ou da opinião pública sobre tão importantes matérias, e quando falta ainda um envolvimento profundo por parte das empresas, ou a atenção, empenho e investimento necessário por parte de governos e cidadãos.
A Biodiversidade foi uma das três prioridades na pasta do Ambiente durante a presidência portuguesa da União Europeia, tendo sido lançadas várias iniciativas para travar a perda de Biodiversidade até 2010, como, por exemplo, a “Business & Biodiversity”, a “Countdown 2010” e o alargamento e ordenamento da “Rede Natura”. Deram-se passos importantes nesse sentido, mas as metas propostas dificilmente serão atingidas em tempo útil.
A preservação da Biodiversidade passa pela protecção das espécies ameaçadas (em risco de extinção) e das espécies endémicas (exclusivas de uma região), pelo controlo das espécies invasoras (com impactes extremos sobre o habitat que colonizam) e pela incorporação de regras no planeamento territorial, que atendam às necessidades das espécies num contexto de alterações climáticas significativas. É este o caminho a seguir e todos os contributos são uma ajuda preciosa; os exemplos de boas práticas assim o comprovam, pelo que, conscientemente temos este dever a cumprir, uma espécie de dívida a saldar com todos os seres com quem partilhamos espaços e recursos e de quem dependemos para sobreviver.
Assim, mais do que necessária, a aposta na Biodiversidade é uma atitude inteligente, responsável e esclarecida, porventura, o legado mais valioso a deixar às gerações vindouras.

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