Mulheres dos novos tempos: Duas histórias de vida

por Liliana Azevedo e Manuela Veríssimo (alunas do 12ºCSH)

São duas pessoas distintas, e a separá-las estão os 24 anos de diferença.
Manela, como é chamada pelos colegas, é uma aluna brilhante, digna de quadro de honra, e querida por todos, sempre disposta a ajudar. Tem 53 anos e terminou agora a sua aula de História. “Na altura queria estudar, mas antes do 25 de Abril, os tempos eram outros”, refere. Uma vida dedicada à família, um sonho adiado, mas nunca esquecido.
Infelizmente, perdeu dois grandes amores da sua vida; primeiro, o marido, depois, a mãe. Depois de um golpe destes, qualquer pessoa iria dificilmente recuperar. Mas a Manela é assim mesmo: uma lutadora. Os três filhos foram a razão pela qual teve de seguir em frente. “A vida continua, tem de ser”, diz enquanto espreita para ver se chega a sua colega.
Entretanto, vieram os netos, os filhos cresceram e havia um vazio por preencher na sua vida. Era a oportunidade.
Agora, pensa no futuro “Depois de acabar a faculdade, vou fazer mais uma coisa que gosto: dançar. Mas só depois.”
Liliana aparece a correr. Tem 29 anos e termina este ano o 12.º ano “Tem de ser. Devo-o a mim própria”.
Esta aluna, da década de 80, recorda os tempos em que ser estudante era a sua única profissão “na altura, achava que estudar era porreiro, mas tinha muitas “borboletas na cabeça”. As coisas não correram bem, as despesas em casa começavam a ser muitas. Era altura de ajudar.”
Começou a trabalhar aos 18 anos e não parou desde então “pelo facto de ter trabalhado por uma empresa de trabalho temporário, aprendi muita coisa, e muitas vezes, tive de me “desenrascar”. Não saímos da escola preparados para o que encontramos nas empresas.” A vontade de terminar o 12.º ano, com o objectivo de prosseguir estudos, não desapareceu e até já tinha tentado concluir em 2003. Quando um problema de saúde apareceu à sua mãe, estudar deixou de ser prioridade. É em 2006 que tenta retomar, mas mais uma vez tem de adiar. “Ainda não era o momento. Estava numa altura em que precisava de estabilizar: emprego, casa, …não era oportuno.” Em 2007, as condições estavam reunidas e inscreve-se no Curso de Ciências Sociais e Humanas. “Tive muita sorte: havia um bom ambiente entre colegas, os professores eram excelentes e ajudou a continuar. Alguns colegas seguiram, entretanto, caminhos diferentes, da turma inicial, ficamos seis. Poucos, mas bons.”
Aliás, é este bom ambiente entre colegas, professores e restantes colaboradores nesta escola, que leva estes alunos a percorrerem quilómetros, a esperarem pelo autocarro, a ultrapassarem as intempéries e, noite após noite, saírem do conforto dos seus lares, e deixarem as suas famílias, para perseguir um sonho, uma vontade. “O sonho comanda a vida”, já dizia António Gedeão.
Quando lhes foi colocada a questão “quem foi/ é a grande mulher da vossa vida”, a resposta é unânime, e sai em uníssono: “a minha mãe”. Um olhar entre duas amigas e uns risos. A noite já vai tarde, e ainda há boa disposição no ar.
São duas pessoas distintas, e a uni-las está a vontade e a determinação. Estas são as grandes mulheres dos novos tempos.

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