Apresentação de "Disco Voador" pelos Clã na Casa da Música

texto de Maria Sousa; fotografias de Bárbara Almeida (alunas do 12ºF)

A sala Guilhermina Suggia da Casa da Música encontra-se cheia de espectadores; vêem-se umas parabólicas suspensas na parede do fundo do palco, que por si se inclina ligeiramente, e os instrumentos musicais estão colocados de maneira assimétrica: a bateria no fundo, o baixo e a guitarra acústica à frente, acompanhadas das teclas e do piano, e no centro está, obviamente, o microfone.
As luzes apagam e entra sorrateira na sala pelo lado esquerdo uma pessoa a segurar uma lanterna e a caminhar por entre o público até chegar ao palco. É a vocalista, Manuela Azevedo.
Aponta-se um holofote na sua direcção e começa a falar sobre bichos num tom de história infantil… O palco fica unicolor e umas luzes em espiral, projectadas por cima, começam a girar em torno no palco: deu-se início à música.
Bastante energética, a canção fala sobre o real e o verdadeiro amigo, que deve existir em carne e osso e não através de um ecrã, num computador. Suponho que sirva de crítica à juventude de hoje em dia e a sua maneira peculiar de socializar e de julgar. Nas parabólicas coloridas ilustra-se agora a música através de palavras e imagens projectadas, o que não deixa de ser uma ideia interessante.
De seguida principia outra música, que se dirige a um tal de Mestre Hermeto e à sua loja, mantendo o tom infantil nas letras e na interpretação. A cor das luzes varia entre tonalidades fortes e coloridas, como o laranja, o roxo e o verde.
“Era uma vez uma palavra com tantas sílabas que ninguém consiga dizê-la… e isso é triste porque as palavras são para se dizer. (…) Decidiu então imigrar e foi para um sítio onde toda a gente gosta de a dizer, mesmo sem saber o que significa” explica a vocalista numa declaração um pouco irónica e, mais uma vez, analítica.
Novamente alegre e traquina, a letra da música que começa está repleta de onomatopeias. O espectáculo de luzes é agora intensificado e projectam-se “smiles” nos ditos tambores.
“É um prazer estar aqui na casa da música…” expressa Manuela e agradece o facto de estarem presentes crianças de várias idades e lembra que este é um concerto destinado às mesmas. Discursa depois sobre algo que acontece em todas as idades - a paixão - e segue por afirmar que “amar é lindo, mesmo que amemos uma pessoa feia”. De acordo com o ambiente, a sala enche-se de tons rosa.
A letra da canção que se segue é engraçada, aponta os defeitos da rapariga e do rapaz que formam um casal e anota que, apesar desses mesmos defeitos, o amor que sentem um pelo outro não esvanece. E nisto, os casais à minha volta enchem-se de carinho.
A vocalista conversa sobre a separação dos sexos em criança e como os rapazes são umas pestes e as meninas são, pronto, meninas, pega numa pandeireta e começa a cantar. Há, logicamente, diferenças entre os dois e criaram-se estereótipos acanhados por esse mesmo facto. Verifica-se repetidamente uma grande preocupação com a mensagem transmitida através da palavra.
“Era uma vez um pássaro que tinha vertigens e, por isso, tinha receio de voar (…) certo dia caiu duma árvore e quando estava mesmo quase a chegar ao chão, bateu asas e perdeu o medo! E percebeu que voar era, afinal, óptimo” conta, mais uma vez, Manuela.
A música é a voz da cantora e o piano, os outros membros da banda viram as costas e as luzes iluminam a sala de tons de azul claro. Parece uma canção de embalar, muito calma e leve. Trata do medo de crescer e como tudo muda quando a criança deixa de ser criança e as pernas esticam, os braços crescem e os pêlos nascem. Grande interpretação por parte de Manuela, que sente profundamente o que representa.
“Chegou a parte de vos fazer um inquérito” informa a vocalista, sempre bem-disposta e humorística. “Será sobre gastronomia. Se a resposta for afirmativa, quero que ponham os braços no ar, se não, deixem-nos estar”. Uma boa forma de envolver o público, sem dúvida.
Inicia uma sequência de perguntas como “Quem gosta de sopa de legumes?”; “Quem gosta de agriões?”; “E sushi?” etc, comparando a população do Porto com a de Lisboa, constatando que as pessoas de norte são menos esquisitas no que toca a comida. A última pergunta é a seguinte: “E quem gosta de chocolate?” à qual os espectadores respondem calorosamente que sim, emitindo, em conjunto, sons que demonstram o seu inevitável sentimento em relação ao chocolate.
Manuela desloca-se para o lado direito do palco, juntando-se ao membro da banda com a guitarra acústica e, ao mesmo tempo, os restantes membros deslocam-se para o lado oposto. “Sou ché ché por chocolate!” grita, começando a cantar, e enquanto o faz, os quatro indivíduos à esquerda do palco principiam uma espécie de dança/encenação em conjunto.
Esta terá sido, provavelmente, a interpretação mais divertida durante todo o acto. Foi sem dúvida a que mostrou mais união entre as pessoas do grupo. É de salientar que o tratamento visual do concerto foi um constante cuidado da banda, obtendo resultados excelentes, muito cativantes.
“E chegámos à parte triste do nosso concerto… Todos os concertos têm uma parte triste e esta é a nossa…”, o palco cobre-se de um azul eléctrico, “Sou um cão salsicha” declara a cantora. Este excerto aplica-se às pessoas que têm animais domésticos e que não lhes dão a atenção necessária, não permitindo aos mesmos uma vida feliz. Um pormenor curioso: escondido atrás de uma parede do lado direito do palco, estava alguém a esticar o braço com um letreiro que dizia “PODEM UIVAR”. Deu um efeito visual agradável à performance, mais uma vez envolvendo o público, que uivou “ao ritmo do cartaz”.
Projectam-se as estrelas, o espaço e a lua…
“Era uma vez a Capuchinho Vermelho (…) quando viu o Lobo Mau disse: - Estás aí para comer a minha avó? Porque não me comes logo a mim? – “
Começa uma música mais pesada, cujo tema é ter asas nos pés e saltar!
Para finalizar, discursa sobre a pressão que é feita aos rapazes para serem fortes, machos e ignorarem o que sentem. Realça-se a qualidade das letras e a forte interpretação por parte da vocalista.
Posto isto, foi um serão agradável e surpreendente! Repleto de significado, para variar das banalidades que tanto nos habituámos a ver.
Parabéns aos Clã!

Mais fotografias em:
Clã. Disco Voador na Casa da Música

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