Editorial (Edição nº11)

Ainda e sempre o prazer de ler
por Maria José Ascensão (Presidente da C.A.P.)

Lembro-me de olhar para a estante e ver livros, livros e mais livros, grandes, pequenos, de lombada larga, fina, mais ou menos coloridos, alguns bens encadernados, arrumados, como um pronto a servir que me parecia enorme. Para uma criança, aquela estante representava um mundo imenso de mistérios e histórias para descobrir… um dia, quando soubesse ler. Era um fascínio e uma frustração. Encantava-me quando me liam uma história. Devia ser bom ler. Observava o meu pai quando lia.
Parecia tão compenetrado e nada interessado em interromper a leitura, mesmo quando o chamava para vir para a mesa. Animava-me pensar que, em breve, iria aprender a ler. Todo aquele mundo estava à minha espera. Entretanto, contentava-me em inventar as minhas próprias histórias, com um livro na mão, fingindo ler para as bonecas. E o dia chegou, o dia em que finalmente tive um livro só meu, com letras gordas, que ainda consigo ler sem óculos. Guardo-o como marco de vida. Daí em diante, poderia desfrutar progressivamente de todo aquele mundo, até aí inacessível, descobrir o que aquelas letras pequeninas escondiam, o que tinham de tão especial que prendia as pessoas, numa palavra, o prazer de ler. A estante afinal não era tão grande assim. Fui-a conquistando à medida que fui crescendo. Certos livros ainda teriam muito que esperar. Não sei se os li todos, até porque comecei a escolher e a procurar em função da idade e dos gostos que ia desenvolvendo. Recordo-me de pedir um livro de presente. Era algo que me iria dar prazer. Deixava-me levar pela leitura, às vezes, avidamente, outras com a tranquilidade de quem saboreia um quadrado de chocolate. Lia até às escondidas, por vezes noite dentro, sem me aperceber do passar das horas. Dava-me gozo. Ler, era mesmo um prazer. Olho agora para a estante, já é outra, bem maior. Muitos daqueles livros permanecem, fazem parte da minha história. Provavelmente não os tornarei a ler, mas gosto de lhes tocar, cada um me deu algo diferente que me fez crescer. Observo os títulos, os autores. Uns fizeram-me viajar, imaginar outros tempos e lugares, com tanto realismo que até parecia sentir os cheiros e os sons, como se lá estivesse; outros fizeram-me sonhar, emocionar, sorrir e até chorar com as venturas e desventuras das personagens; alguns abriram-me as portas mágicas da poesia; outros fizeram-me pensar, questionar, querer saber mais, produzir o meu próprio pensamento. Todos foram importantes para mim e todos me deram mais ou menos prazer. Os tempos mudaram e hoje o livro tem novos suportes, afinal estamos na era digital. Partilhar a leitura é hoje mais acessível do que nunca. A Internet abriu novas portas e alargou fronteiras. Basta pensar no acesso aos jornais on-line, na possibilidade de comentar notícias e artigos, nos blogs, nos milhões de páginas de conteúdos à distância de um click. É bom ter tudo isso, ter bibliotecas, ter amigos com quem partilhar livros e o gosto de os ler. Descobre esse mundo. Vais ver que vale a pena. Ler é realmente bom.
Boas leituras.

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