Homenagem a José Saramago


por Maria da Luz Leonor e alunos EFA / Ns1 da EBSRF

No dia 4 de Abril, participamos na Semana da Leitura, com uma actividade, em homenagem a José Saramago.
Foi distribuído pelos presentes, o discurso de José Saramago, lido com sensibilidade e prazer, quando recebeu o prémio Nobel da Literatura. Nesse discurso, José Saramago apresenta-nos o amor à terra, como sendo as raízes da felicidade, da verdade, da beleza, o verdadeiro milagre: «O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer»( palavras de sua avó Josefa); «o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores, do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.»
No Power Point, audio-visual, passamos extractos das obras do escritor, O Evangelho Segundo Jesus Cristo,e Caim .Reconhecemos a dificuldade da sua leitura, dado o seu estilo que nos impossibilita uma leitura mecanizada, porque, é difícil de imediato identificar as personagens, o narrador, pela ausência dos sinais convencionais, para o efeito. Sentimo-nos, contudo, próximos do escritor, que se expõe continuamente nos seus comentários e nos convida a usar a inteligência e sensibilidade de que somos dotados . Reflecte connosco, como qualquer ser humano o poderia fazer, sem grande instrução, liberto apenas do sentimento de autoridade perante os mais letrados que perderam o hábito de pensar pela sua própria cabeça.
Os textos selecionados, incidiam sobre figuras femininas. Maria, habituada aos silêncios do marido José, entrando em cena só com a autorização daquele.
José sem problemas em questionar Maria, mas não lhe revelando os seus pensamentos, sempre desconfiado.
“Tanta firmeza teria de abalar a postura de desconfiança sistemática que deve ser a de qualquer homem quando confrontado com ditos e feitos das mulheres”.
“Falar-lhes pouco e ouvi-las ainda menos é a divisa de todo o homem prudente”
José manifesta o seu receio de continuar a apurar a verdade, através da esposa, prefere a dúvida e a incerteza do que imaginar ser ridicularizado por ela e suas amigas, no caso de esta continuar a mentir sem ele poder confirmar o que aconteceu verdadeiramente entre Maria e o pedinte.
José defende-se das “artimanhas” atribuídas à mulher em geral, à semelhança dos demais, fala pouco, evita expor os seus sentimentos, arriscando-se a que a dúvida corroa o seu coração não podendo, assim, olhar de frente a esposa, nem reconhecer, pelo brilho dos seus olhos, que estava grávida.
Eva é capaz de se impor, decidida, dirige-se ao anjo que guarda o jardim do Éden para conseguir comida. Saramago apresenta-nos Eva, como uma mulher que experimentou o seu poder, quando sem medo com coragem diz exactamente o que pensa .” Era como se dentro de si habitasse uma outra mulher, com nula dependência do senhor ou de um esposo por ele designado.”
Mais adiante Saramago desoculta a força da crença da inferioridade da mulher, cravada na própria mente de Eva :“Se eu fosse homem seria mais fácil”.
Não volta porém para trás, não desiste, enfrenta o Anjo, foi persistente, coloca o Anjo numa situação extrema , sem medo da ameaça de morte. Eva sabia que o anjo haveria de ceder: “Não podia deixar morrer de fome aqueles que o senhor criou”, diz o anjo Azael.”
Lilith, outra personagem feminina, poderosa, autoritária, uma rainha que escolhe os seus parceiros sexuais. Uma mulher que contrariamente ao que é habitual pensar-se, não tem menos desejo que os homens, mas não foge aos preconceitos. É considerada bruxa, ao contrário de um homem, que pelas mesmas razões seria alvo de admiração.
Agradecemos a presença dos que estiveram presentes, deixando também um convite, para a refrescante leitura das obras de José Saramago.

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