Algumas curiosidades sobre a nossa escola

por António Augusto Oliveira Cunha e António Tavares

1ª Porque é que no frontão do edifício está o nome de D. Manuel II?
Oleitor, certamente, já se questionou sobre a razão de o nome de D. Manuel II aparecer no frontão da nossa escola sendo ela Rodrigues de Freitas. De facto, criado em 1836 com o nome de Liceu Nacional do Porto, o Liceu teve vários nomes, entre eles, o de D. Manuel II (entre 1908 -1910 e entre 1947-1974), e o de Rodrigues de Freitas entre 1910-1947, e a partir de 1974.
No tempo do reitor A. Américo Guerreiro (1946-1966) foram executadas avultadas obras no edifício do Liceu, nomeadamente alterou-se o frontão da fachada do corpo central do edifício para aí gravar o nome do último monarca português, nome que, apesar da mudança de patrono, ainda aí permanece.
O que é interessante é que, em democracia, a nossa escola sempre foi Rodrigues de Freitas: Iª República e logo após o 25 de Abril até hoje.

2ª Porque é que se chama Rodrigues de Freitas?
O nome Rodrigues de Freitas é dado ao Liceu a 23 de Outubro de 1910, 18 dias após a implantação da República. O patrono da escola, republicano convicto, foi, aliás, o 1º deputado republicano no Parlamento, e aí proferiu (em 1879) um célebre discurso sobre a educação. Mas o seu nome está ligado ao liceu por, além de ser uma figura muito popular e estimada na cidade do Porto, ter como deputado, no Parlamento, saído em defesa da instituição numa acesa polémica que envolveu o liceu e a tutela a respeito da imposição, em 1870, duma nova reforma, quando estava em curso uma outra iniciada dois anos antes.

3ª O Liceu e a partilha das instalações.
Em 1840 o então Liceu Nacional começou a funcionar num edifício da Rua de S. Bento da Vitória (antigo convento das Carmelitas), partilhando as instalações com a Academia Politécnica e com uma parte da Academia de Belas-Artes.
Actualmente estão a decorrer obras na nossa escola visando melhores condições para a prática pedagógica, bem como para, como no princípio, partilharmos o edifício (construído de raiz para instalar definitivamente o Liceu em 1933), com o Conservatório de Música.

Se no edifício da “Politécnica” o Liceu tinha apenas três salas, o que era insuficiente, o Conservatório ocupará quase metade do Liceu.
A arte, agora a música, como no princípio a conviver com o Liceu.

4ª Os estudos clássicos no Liceu.
A actividade pedagógica do Liceu começou no ano lectivo de 1840/41, apenas com os professores de Língua Latina, Língua Grega e Oratória (o professor de Ideologia estava ausente e não havia alunos para a Língua Alemã).
Hoje, apesar de oferecer uma formação muito diversificada (3º ciclo do ensino básico, cursos de educação e formação, ensino secundário regular, cursos profissionais, educação e formação de adultos e ensino recorrente modelar), faz jus às suas origens tendo duas turmas de Latim e uma de Grego (a única na cidade do Porto).

5ª Já ouviu falar da “Universidade da Carvalhosa”?
Pois era assim que, de uma forma jocosa, se chamava ao Liceu. E porquê? Porque muitos dos seus professores também o foram na Faculdade de Letras e também porque professores do Liceu foram ministros da Instrução na República: Leonardo Coimbra, que tem uma estátua no jardim frente ao Liceu, foi por duas vezes Ministro da Educação (uma em 1919 e outra em 1922) e Eduardo Ferreira dos Santos Silva, também por duas vezes. Foi o último Ministro da Instrução da Iª República.
Em 1919 é criada a Faculdade de Letras da Universidade do Porto pelo ministro Leonardo Coimbra, o qual, logo após deixar o cargo, foi seu (primeiro) director. Extinta em Abril de 1928, pela Ditadura Nacional, Leonardo Coimbra regressa ao Liceu e com ele vários outros, por exemplo, Francisco Torrinha, ilustre lexicógrafo que havia sido reitor interino em períodos entre 1919 e 1924. Jaime Cortesão foi outro professor ilustre.
A Faculdade de Letras da UP é recriada em 1961 e o lançamento dos cursos de Filologia Germânica e de Geografia foi coordenado por dois professores do Liceu Rodrigues de Freitas, respectivamente Armando Pinho de Morais e Rosa Fernanda Silva (que foram destacados para o efeito).

6ª Um Liceu misto já no século XIX.
A partir de 1895/96 referem as estatísticas que o Liceu era frequentado por alunos e alunas em regime de ensino misto, embora os responsáveis tivessem o cuidado de estruturar as turmas por géneros, tentando reduzir os contactos entre rapazes e raparigas.
Em 1914/1915 é criada a Secção Feminina dos Liceus do Porto, na rua de Cedofeita, nº441 (embrião da actual escola secundária Carolina Michäelis). A partir daí, o Liceu, até 1974, funciona como exclusivamente masculino. Hoje, como não podia ser de outra forma, o ensino é misto

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Escola de Miragaia

Entrevista a Manuel Cruz