Domingos Monteiro: um Humanista Integral

por Mário Sá

No passado dia 23 de Março, integrada no ciclo Noites de Literatura e no programa da Semana da Leitura do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas, realizou-se, na Biblioteca Jaime Cortesão (BJC), uma palestra subordinada ao tema Domingos Monteiro: um Humanista Integral, organizada pelo professor Jorge Moranguinho e proferida pelo professor doutor António Manuel Ferreira, da Universidade de Aveiro, que nos apresentou a obra de um escritor quase desconhecido e, sem dúvida, um injustiçado das letras portuguesas.
Domingos Monteiro Pereira Júnior nasceu a 6 de Novembro de 1903, em Barqueiros, Mesão Frio, e, em 1904, foi viver com a família para o Brasil, Rio de Janeiro, Tijuca, aí convivendo com uma angolana, de Cabinda, criada da família, que teve grande influência durante toda a sua vida, apresentando-lhe os bichos e as plantas como gente, tendo regressado, cinco anos mais tarde, em 1909, à sua terra natal. Segundo o professor doutor António Manuel Ferreira, na obra de Domingos Monteiro, é notório um reviver constante do espaço temporal da sua infância, de uma forma criativa e emotiva.
Desde muito jovem, um excelente aluno, concluiu a sua licenciatura em Direito pela Universidade de Lisboa, em 1927, tendo sido considerado, juntamente com Marcelo Caetano, um dos mais distintos alunos do curso. Domingos Monteiro iniciou a advocacia com a defesa de grevistas, actividade incompatível com a ideologia do regime, tendo aderido, em 1932, ao movimento de Renovação Democrática.
Em 1948, criou, como editor, a Sociedade de Expansão Cultural, que veio a ter uma acção notável na divulgação de autores portugueses.
Em 1958, ingressa no Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido nomeado director desse serviço em 1974.
Foi-lhe atribuído, por duas vezes, o Prémio Nacional de Novelística: em 1965, ao livro O Primeiro Crime de Simão Bolandas e, em 1966, a Letícia e o Lobo Júpiter. A propósito deste último livro, o professor Jorge Moranguinho confessou ter chorado com o desenlace trágico e impressivo da novela e que, mesmo correndo o risco de sair da palestra com o epíteto de “Moranguinho, o chorão”, sossegou as almas dos mais incrédulos de que só chora por coisas que valem a pena, lançando, assim, à assistência o repto para a iniciação à leitura da obra de Domingos Monteiro por Letícia e o Lobo Júpiter. Homem com invulgar grandeza de alma, em simbiose com o Universo, nunca se esqueceu dos ensinamentos da sua velha criada de infância, em particular, o de que as árvores, tal como nós, também têm coração.
A 17 de Agosto de 1980, o escritor foi sepultado, em jazigo de família, no cemitério do Alto de São João.
A Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) e a Câmara Municipal de Mesão Frio promoveram, no passado dia 19 de Fevereiro, pelas 21h 30m, no Auditório Municipal de Mesão Frio, uma sessão pública de apresentação da Exposição Biobibliográfica e do Documentário dedicado ao escritor Domingos Monteiro, integrados no programa O Douro nos Caminhos da Literatura, que vem lançando documentários sobre a vida e a obra de escritores durienses. Esta iniciativa da DRCN procura apresentar-se como uma proposta turística de cariz literário. A ideia é, segundo a DRCN, colocar “o espectador perante dois desafios: viajar pela região, tendo por base a obra de alguns dos seus escritores mais representativos; e, simultaneamente, viajar pelo interior dos caminhos da literatura, descobrindo as imagens que serviram de inspiração às suas obras.”
A terminar mais uma noite de literatura na BJC, o professor Jorge Moranguinho sensibilizou a professora bibliotecária, Maria Luísa Lamas, para a aquisição da obra completa de Domingos Monteiro, publicada pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, e deixou a promessa de que entrará em contacto com a DRCN no sentido de, no próximo ano lectivo, trazer para o Agrupamento a exposição que esteve patente de 19 de Fevereiro a 19 de Março, na Junta de Freguesia de Santa Cristina, em Mesão Frio: Domingos Monteiro: Um Humanista Integral.

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