Entrevista a Igor Gandra, Director do FIMP


por Bárbara Marmelo e Helder Marques;
colaboração de Ana Sofia Pedreiro (alunos do 12ºF)

Jornal Etc : Como foi o seu percurso académico?
Igor Gandra (IG) : O meu percurso académico não é relevante. O que é relevante é o meu percurso profissional e artístico e aquilo que me marcou enquanto artista e criador foi ter participado neste festival há quase 20 anos! Comecei por ser voluntário, gostei do convívio com os artistas deste festival e assim eu descobri ser marionetista.

Etc: …Foi então assim que decidiu estudar para ser marionetista?
IG : Não, por acaso não! Na altura estudava dança. Supostamente viria a ser bailarino, mas tive uma relação no sentido mais místico do termo.

Etc: Visto que foi o seu primeiro ano enquanto director do FIMP, que maiores dificuldades sentiu?
IG : Vivemos um momento muito difícil, a pretexto da crise estão a ser tomadas medidas politicas que são difíceis de tomar noutro contexto, são medidas de cortes, privatizações e exclusão. E o festival não foi excepção! Arrancamos com este festival com menos dinheiro do que aquele que era necessário…

Etc: Relativamente ao conceito de marionetas, nós reparamos numa fuga ao conceito de marionetas tradicional, porque geralmente trata-se de um palco com um cenário e bonecos de madeira a movimentarem-se com fios…
IG : Não sei, não coloco as coisas nesses termos, o que eu penso é que a marioneta enquanto ideia é que é muito rica, muito abrangente, podemos pensar no exemplo de máquina e corpo humano e isso são dois aspectos que convergem na marioneta. Isso na maior parte dos casos e na representação, é uma metáfora do corpo humano, como a própria maquina é uma metáfora do corpo. E a nossa proposta é um pouco essa, apresentar trabalhos de artistas que sejam conduzidas por si só ou em si mesmos.

Etc: De todos os espectáculos que assistimos, qual acha que foi o mais espectacular ou mais surpreendente? Aquele que possa ter sido o mais marcante?
IG : É difícil escolher, é difícil colocar esse papel num único espectáculo, eu tenho uma visão muito geral do conjunto. No entanto, acho que aquele que mais se propõe a um deslocamento de fronteiras, mais marcante, talvez tenha sido o “La Timidezza delle Ossa”, da companhia “Pathosformel”, no teatro do Ferro.

Etc: Quais companhias e espectáculos recomendaria ao público mais jovem que pretende seguir as áreas da representação?
IG : As que estão no festival são todas boas senão não estariam aqui, mas eu acho que os festivais servem para isso mesmo. Servem para ajudar a criar quadros de referência. Mas isso não compete à direcção artística nomear, as pessoas é que têm de descobrir. Descobrir também é assistir, perceber os seus próprios percursos, as suas próprias afinidades. Cada artista tem a sua própria apresentação, por isso, cabe a cada espectador escolher.

Etc: … Porque há imensos espectáculos com qualidade, é isso?
IG : Exactamente.

Etc: No nosso caso - jovens artistas - se decidirmos ir para o mundo da representação, incluindo o universo das marionetas, quais são os seus conselhos… os indispensáveis?
IG: Vejam muitos espectáculos! Participem no mundo do teatro, das marionetas. Ver espectáculos é um modo de aprendizagem fundamental. O outro conselho é que leiam e estudem muito, relacionem aquilo que lêem com aquilo que vêem.

Etc: Preocupa-o o facto de o teatro não ter actualmente muito público?
IG : Eu acho que ainda não se prevê a morte do teatro, enquanto fenómeno sociológico, o teatro é insubstituível na arte. Eu acho é que nós vivemos um tempo em que as coisas se tendem a confundir. E isto não é só no teatro que acontece, também em varias artes plásticas, também na musica, e na dança.

Etc: Acha que existe um público fiel ao FIMP?
IG : O FIMP é um marco, é um festival que tem mais de 20 anos. A edição presente marca um inicio de um novo ciclo, com a mudança da direcção artística e da equipa.

Etc: Então acha que o festival tem tendência para evoluir ainda mais?
IG : Eu acho que sim. Esta edição que hoje termina, é pautada por um nível de influência maior. É um objectivo que nos propusemos e que não era fácil. Um festival que é praticamente passado na rua, a três dimensões! Mas, também não quero pensar no crescimento do festival exclusivamente nessa perspectiva. Há coisas que terão sempre muito mais gente… também porque alguns dos nossos espectáculos, só podem levar cem pessoas, e é assim que tem que ser feito.

Etc: Fica orgulhoso quando verifica as lotações esgotadas nos vários espectáculos?
IG : Claro que sim!... Quando uma coisa dessas acontece neste festival, e que aconteceu várias vezes, é graças ao trabalho de uma equipa que está a funcionar, uma equipa, uma produção, uma comunicação, uma equipa técnica, uma equipa de suporte... É bom salientar que toda a organização e desenho deste festival é devida a mim e a outros elementos da direcção! Tem a ver com a relação do que é o ideal e daquilo que é possível. Acho que conseguimos um compromisso muito importante!

Etc: De que forma é que tenta adquirir novos públicos?... Ou melhor, sente-se capaz ou necessitado de atrair mais e diferentes espectadores?
IG : Este festival teve propostas muito diversas, nós tivemos experiências radicais e muitas delas acessíveis, como os “Fimpalitos”. E o festival para mim funciona um pouco dessa maneira… Funciona como um gesto absolutamente assumido de abertura a toda a gente, e quando digo isto, não é para dizer que quero aqui todos, porque quando se quer tudo, acabamos por não ter nada…

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